«tu , meu querido e confuso amigo , nunca te lembraste de regar as sementes que foste acidentalmente deixando cair na terra por onde passas . ou então regressas ao lugar onde elas cresceram de geração espontânea , e , sem que nunca as tenhas adubado com afecto ou protegido dos ventos da solidão , arrancas-lhes as raízes .
(...)
vivi iludida durante muito tempo , julgando que o amor era feito de grandes arrebatamentos ! até o será , certamente , para os espíritos apaixonados . mas tem de haver muito mais . momentos perdidos no tempo não enchem os dias . noites sozinha na cama a desejar o teu corpo ao meu lado , semanas , meses , anos de uma solidão povoada de segundas escolhas , até apareceres outra e outra vez , e para quê ? para me obrigares a pôr o meu coração ao espelho e desapareceres de novo ? para assegurares que o meu amor por ti se mantinha , eterno , certo , intemporal , intocável ? tu não voltavas por mim , voltavas por ti e para ti . as minhas injecções de afecto alimentavam-te o ego . os teus regressos serviam para marcares ainda e sempre o teu território . mas tu alimentavas a ausência , o vazio , o grande equívoco de todo este amor . porque na verdade , meu querido , estou agora em crer que nunca houve amor . não da tua parte .» (Margarida Rebelo Pinto)
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